1. Introdução
A célula tronco é definida como a célula com capacidade de gerar diferentes tipos celulares e reconstituir diversos tecidos. Elas podem ser classificadas em células tronco embrionárias (quando são obtidas do núcleo da massa das células do blastocisto) ou em células tronco adultas/somáticas (quando obtidas entre células diferenciadas de um tecido específico. (SOUZA; ELIAS, 2005). Desde o início do século XX sabe-se da existência de células precursoras das células diferenciadas nos tecidos de organismos adultos. Em relação às células-tronco embrionárias, foi somente na década de 80 que os primeiros resultados de pesquisas começaram a ser divulgados. (FUJII, CORAZZA, GALUCH, 2009).
Logo após a fusão do espermatozoide e do óvulo, as células começam a se dividir. Pelo menos até a fase de oito células, cada uma delas é capaz de se desenvolver em um ser humano completo. São chamadas de totipotentes. Na fase de oito a dezesseis células, as células do embrião se diferenciam em dois grupos: um grupo de células externas que vão originar a placenta e os anexos embrionários. Após 72 horas, este embrião, agora com cerca de cem células, é chamado de blastocisto. As células internas do blastocisto vão originar as centenas de tecidos que compõem o corpo humano. São chamadas de células tronco embrionárias pluripotentes. A partir de um determinado momento, estas células somáticas – que ainda são todas iguais – começam a diferenciar-se nos vários tecidos que vão compor o organismo: sangue, fígado, músculos, cérebro, ossos etc. (ZATS, 2004).
A pele pode ser lesionada de diferentes formas, tais como queimaduras ou lesões perfurantes causando a perda de sua função, em diversas situações. Os tratamentos são baseados na substituição do tecido lesionado com variados graus de eficiência. Atualmente, tem surgido possibilidades inovadoras de correções deste tecido com a utilização das células tronco (LI et al., 2004 e LACERDA E MARTINS, 2007).
As células tronco tem duas propriedades fundamentais que as distinguem dos demais tipos de células. É um tipo de célula que pode se diferenciar e constituir diferentes tecidos no organismo. Esta propriedade é peculiar, uma vez que as outras células apenas podem originar células do mesmo tecido a que pertencem. A outra capacidade fundamental da célula-tronco é a auto replicação, que significa que podem gerar cópias idênticas delas mesmas. Estas propriedades únicas das células tronco fazem com que os cientistas busquem nelas a possibilidade de encontrar a cura para muitas doenças, através a substituição dos tecidos danificados (SOUZA; ELIAS, 2005).
A pesquisa básica de biologia celular e da medicina está constantemente em curso para selecionar células para determinar se são adequadas para terapia celular (TABATA,2009). As terapias celulares e a bioengenharia atuam no contexto da medicina regenerativa, a procura do controle e ampliação da capacidade natural da regeneração de tecidos. A regeneração mantém em curso natural a homeostasia tecidual, substituindo simultaneamente as células inutilizadas (BOROJEVIC, 2008). Os elementos celulares são fundamentais para as terapias celulares e a bioengenharia. Organismos primitivos que possuem uma alta capacidade de regeneração serviram de parâmetros importantes para a compreensão dos processos da regeneração da morfologia genética (BEKKUM, 2004).
2. Objetivo
O presente trabalho tem o objetivo, através de uma revisão bibliográfica, identificar os processos envolvidos na reconstituição dos tecidos epiteliais de revestimento por meio de células tronco.
3. Discussão
Tecido epitelial consiste em células dispostas em lâminas continuas, em camadas únicas ou múltiplas. As células são densamente grupadas, mantidas fortemente unidas por numerosas junções celulares, existindo pouquíssimo espaço extracelular entre as membranas plasmáticas adjacentes. Avascular, o tecido epitelial não tem seu próprio suprimento sanguíneo, quem realiza estas tarefas são as escorias situadas no tecido conjuntivo,(TORTORA;GRABOWSKI, 2002). A pele é o primeiro contato que o corpo possui com o meio exterior. É constituída de três camadas, a epiderme, a derme e a hipoderme ou tecido subcutâneo. A epiderme é constituída de tecido epitelial, a derme de tecido conjuntivo propriamente dito e a hipoderme de tecido adiposo. Na epiderme existe a camada córnea, que é a mais externa de todas, onde as células estão mortas, com aspecto morfológico achatado (pavimentoso). Essa camada apresenta abundância em queratina, impedindo que a água evapore ou entre no organismo e altere a osmolaridade (LACERDA; MARTINS, 2007).
Os tecidos epiteliais, tanto de origem ectodérmica quanto endodérmica, e os derivados desses folhetos embrionários, possuem sistemas próprios de células tronco. Elas mantêm a sua renovação contínua, conseqüente ao desgaste da interface com meios externos. Seu nicho é geralmente associado com a membrana basal da interface com tecidos subjacentes. Uma hierarquia complexa define uma população celular menor de replicação muito lenta, que representa a reserva tecidual de progenitores com capacidade regenerativa alta, e que mostra a capacidade de gerar in vitro os holoclones de longa e ampla capacidade proliferativa e diferenciativa. Distanciando-se dos nichos, as células tronco de transição proliferam intensamente, geram a massa celular e perdem a amplitude de suas capacidades, gerando in vitro os meroclones e teloclones. (PELLEGRINI, 1999).
O epitélio tem muitos papeis no corpo, os mais importantes incluindo a proteção, a filtração, a secreção, a absorção e a excreção, combinam com o tecido nervoso para formar órgãos especiais para o olfato, a visão, audição e tato. Podem ser divididos em dois tipos, epitélio de revestimento formando a epiderme da pele, recobrindo alguns órgãos internos, como vasos sanguíneos, ductos, cavidades corporais e interior dos sistemas respiratórios, digestório, urinário e reprodutor. O epitélio glandular forma a parte secretória das glândulas, como a das glândulas tireoide, adrenais e sudoríparas.
Epitélio de revestimento está classificado de acordo com as características de disposição e formato, entre eles temos: escamoso simples, cuboide simples, colunar simples, escamoso estratificado, cuboide estratificado, colunar estratificado, transicional, colunar pseudo-estratificado. Enquanto o epitélio glandular, esta relacionado com secreções, que por muitas vezes formam massas situadas na profundidade do epitélio de revestimento, recebendo a denominação de glândulas, entre elas: endócrinas, exócrinas, unicelulares, multicelulares, simples, composta, tubulares, acinares, túbulo-acinares, merocrinas, apocrinas, holocrinas. (TORTORA; GRABOWSKI, 2002).
As feridas muito extensas induzem à ativação de células do estroma e do parênquima, as quais se multiplicam rapidamente para produzir fibras de colágeno e fornecer resistência. Vasos sanguíneos emitem novos brotamentos para nutrir a parte regenerada, formando um tecido de granulação. Este formará um arcabouço para sustentar células epiteliais, preenchendo a área aberta e liberando um líquido bactericida. O reparo tecidual é dependente de fatores como a nutrição, a circulação sanguínea e a idade. Desta forma, uma adequada dieta alimentar e a circulação de oxigênio estão diretamente ligados ao reparo do tecido (LACERDA; MARTINS, 2007).
Como não existem evidências morfológicas para diferenciar as CT da epiderme das que as circundam, os cientistas utilizam um análogo de nucleotídeo (bromocleoxiuridina) para estudar as características bioquímicas e funcionais dessas células importantes. Em CT queratinócitas esses marcadores ainda não são conhecidos. Contudo, essas células podem ser identificadas in vivo por retenção de marca ou por clonogenicidade in vitro (ALONSO; FUCHS, 2003).
As aplicações clínicas de CT do epitélio ocorrem por meio de enxerto de queratinócitos cultivados, previamente coletados e posteriormente reimplantados no próprio paciente no local danificado. Esse método é efetivo, porém limitado pela avaliação de área superficial limitada da pele e pela capacidade de originar algum grau de injúria adicional. A utilização requer pequenas áreas de coleta e permite cobrir grandes áreas superficiais. A dificuldade da utilização dessa técnica é o tempo necessário para o crescimento do epitélio in vitro, pois o paciente fica suscetível a infecções, e a folha epitelial produzida, por ser frágil, pode não aderir em algumas regiões. O desenvolvimento abaixo da pele enxertada pode assegurar a expansão dos queratinócitos. Essa técnica pode ser utilizada como fonte de instrumento de terapia gênica (ALONSO; FUCHS, 2003).
Referências
ALONSO, L.; FUCHS; E. Stem cell of the skin epithelium. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, United States, v. 100, p. 11830-11835, 2003.
FUJII, R. A. X.; CORAZZA, M. J.; GALUCH, M. T. B. O que Conhecem os Estudantes do Ensino Superior sobre Células-Tronco. VII Empec-Encontro Nacional de pesquisa em educação em ciências, Florianópolis, 2009.
BOROJEVIC, R. Terapias Celulares e Bioengenharia. Gaz. Med. Bahia, v.78, supl.1, p.42-46, 2008.
LACERDA, V.A.M.; MARTINS, C.F. Capacidade das células-tronco em regenerar o epitélio da pele. Univ. Ci. Saúde, v.5, n.1/2, p.135-154, 2007.
PELLEGRINI, G. et al. The control of epidermal stem cells (holoclones) in the treatment of massive full-thickness burns with autologous keratinocytes cultured on fibrin. Transplantation, 68: 868- 79, 1999.
SOUZA, M. H. L.; ELIAS, D. O. As Células-Tronco e o seu Potencial na Reparação de Órgãos e Tecidos. Centro de Estudos Alfa Rio. p.1-13, 2005.
BEKKUM, D.W. Phylogenetic aspects of tissue regeneration: role of stem cells. A concise overview. Blood Cells Mol. Dis., v.32, n.1, p.11-16, 2004.
TORTORA; GRABOWSKI. Princípios de anatomia e fisiologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
WESSELS, S.A.; PÉREZ-POMARES, J.M. The epicardium and epicardially derived cells (EPDCs) as cardiac stem cells. Anat Rec, 276A: 43-57, 2004.
ZATZ, M. Clonagem e células-tronco. Revista estudos avançados, SãoPaulo, v. 51, n. 18, 247-256. 2004.
autores
Gabriela Andrade Rodrigues de Paula
Michelle Aparecida Andrade Araujo;
Renato de Sousa Almeida Moreira.
co-autor
Paulo Roberto Queiroz da Silva.